Ele escutou os passos do passado enquanto fazia sala para seus pensamentos. Pousou o copo de whiskey em cima dos antigos jornais que se encontravam sobre a mesa. Com a audição aguçada, devido à cegueira, facilmente identificou o rangido das madeiras velhas da escadaria sem uso. A porta foi aberta e a brisa leve carregou o cheiro de Adélia até atingí-lo como algo que faz entorpecer:
- Desta vez, por favor, sem o seu clássico determinismo. - Ela falou enquanto adentrava na casa.
Nenhum passo em falso os fizeram desgrudar os olhares.
Adélia, ah, Adélia... Partira há três anos em busca de sua identidade. Conheceu os lugares mais distintos, dos povos mais telúricos aos mais cósmicos. Voltou ao perceber que não havia perdido nada, exceto sua humanidade.
Foi dado início ao ritual:
- Meu coração agora pulsa sem ritmo e você sabe o que isso significa para mim. - Disse ele ao sentir os olhos tocados pelo olhar de Adélia - Estou cego!
Ela se aproximou, encostou a mão esquerda lentamente no peito de Benjamin, primeiro as pontas dos dedos, depois as pontas dos seios. Involuntariamente, ambos lembraram-se do dia em que Adélia partira. Passaram certo tempo sentindo um a pele do outro: - Benjamin, pensei que não fosse possível sentir saudades do que nunca tive.
- Pensei que fosse possível viver das vozes do passado.
- Pelo menos você ainda pode ouvi-las. Estou surda!
Adélia, ah, Adélia... Partira há três anos em busca do seu futuro, não o encontrou.
2 comentários:
"Adélia, ah, Adélia... Partira há três anos em busca do seu futuro, não o encontrou."
Yo llevo en el cuerpo un motor que nunca deja de rolar, llevo en el alma un camino destinado a nunca llegar...
DOEU, VIU?
Continue, porque eu adorei! :)))
Ficou muito bom :)
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