21.3.10

I - considerações iniciais da personagem número um

Se era noite, se era dia, espero que não caiba a mim responder. Lá estava ele, sentando em sua própria rotina e desistindo de pensar nos rumores que corriam pela cidade. Sempre teve o costume de desligar as luzes para ouvir músicas, de tal forma que pudesse ouvir o som do seu pulsar involuntário e interpretar suas oscilações. Mergulhava em cada lembrança e as embalsamava.
O fato é que nada mais o deixava eufórico. Seus sentimentos estavam limitados às memórias do seu passado e as cores, essas não o encantavam mais. Sendo assim, denominou-se cego.
- Estou cego.
Como poderia se satisfazer com alguma coisa se sabia que aquele estado de prazer era passageiro? Estava cansado e há dias nenhuma luz era acesa naquela casa. O álcool, mais frequente em suas veias, não o permitiu voltar ao trabalho e agora o único hospital da localidade sentia a falta do melhor cardiologista.

- Entretanto, o dia hoje vai ser diferente. De repente à cor darás para a eternidade e mal sabe você o quanto esplêndido é o retorno ao Sol.

Era dia, mas é melhor ser rápido. Acaba logo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário